Em Gente, isso é Londres, uma Londres com sotaque árabe é o cenário de uma série de acontecimentos inusitados, envolvendo quatro pessoas que se conhecem em um voo proveniente de Dubai e com destino à capital inglesa: uma iraquiana, uma marroquina, um libanês e um inglês. O livro problematiza a conquista de direitos e liberdades individuais, enquanto reflete sobre questões de identidade e integração numa sociedade estrangeira — sempre com bom-humor e o cuidado para não cair em clichês colonialistas. O sexo, tema central na obra, é utilizado para questionar o dito Ocidente civilizado. Se por um lado o homem europeu aceita expressões de sexualidade consideradas “desviantes” no Oriente, por outro repudia a autonomia feminina na busca pelo prazer. 

Encontramos também neste livro uma representação das mulheres árabes como donas de si mesmas, longe dos costumeiros estereótipos de vítimas e submissas. Segundo o intelectual palestino Edward Said, nunca uma escritora se dedicou com tanto afinco a elucidar a visão deturpada que se tem da vida das mulheres árabes como o fez a pioneira Hanan Al-Shaykh.

Gente, isso é Londres: quem é Hanan Al-Shaykh

Libanesa, a romancista é contemporânea de autores como Hoda Barakat, Elias Khoury e Rachid Al-Daif; uma geração que vivenciou as consequências de um nefasto sectarismo após a eclosão da guerra civil libanesa em 1975. No entanto, o que mais caracteriza a narrativa de Al-Shaykh é sua abordagem do conflito de valores morais dentro da sociedade libanesa a partir de então; um conflito protagonizado pelas mulheres no enfrentamento de suas famílias e da tradição. Não raro vemos em sua obra referências à vida pessoal da autora, bastante conhecida nos países árabes, o que lhe rendeu uma enxurrada de ataques machistas e moralistas ao longo dos anos. Fato é que a guerra civil revelou uma face menos tolerante de Beirute — que deixara de ser a “Paris do Oriente Médio” — e a fez partir para o exílio em Londres, onde vive até hoje.

Gente, isso é Londres é o primeiro livro da autora traduzido para o português. Trata-se de um romance árabe pós-colonial, por excelência, que conta com a tradução cuidadosa de Jemima Alves, uma importante estudiosa do assunto no Brasil.  

Felipe Benjamin Francisco

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Sobre Hanan Al-Shaykh

Hanan Al-Shaykh nasceu em 1945 em Beirute, Líbano. Iniciou sua carreira como escritora aos 17 anos, no jornal Annahar. Em 1975, com o início da guerra civil libanesa, Al-Shaykh mudou-se para a Arábia Saudita e, em 1982, para Londres, onde vive até hoje. É considerada uma das maiores escritoras árabes contemporâneas. Tem mais de 15 livros publicados, entre contos e romances, e foi traduzida para mais de 20 idiomas. 

Jemima Alves

Jemima Alves nasceu em 1989, em São Paulo. É doutoranda em Letras Estrangeiras e Tradução e mestre em Estudos Judaicos e Árabes pela Universidade de São Paulo (USP). Realizou parte da sua formação acadêmica em Portugal, no Marrocos, em Omã e em Nova York. É a tradutora de Gente, isso é Londres

Felipe Benjamin

Felipe Benjamin Francisco é professor e tradutor do árabe. Graduou-se em Letras – Árabe pela Universidade de São Paulo, onde obteve os títulos de mestre e doutor pelo programa de Estudos Judaicos e Árabes. Suas publicações científicas abordam, sobretudo, os aspectos linguísticos do árabe e seus dialetos. Também é membro fundador do grupo Tarjama – Escola de tradutores de literatura árabe moderna (USP), sob coordenação de Safa Jubran. Nos últimos anos, para além da docência e da pesquisa, tem atuado como tradutor e intérprete comunitário árabe-português no contexto de refúgio.

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