Esta é a orelha do romance Correio noturno, de Hoda Barakat, assinada por Marcelo Maluf

Neste engenhoso romance, ao mesmo tempo comovente e feroz, o leitor acompanhará, como cúmplice, a escrita de seis cartas, seis personagens, todos árabes, em confissões íntimas a respeito de um passado, remoto ou recente, e seus efeitos e reações na vida atual dos narradores. Um imigrante ilegal escreve para sua amante, uma mulher madura redige sua carta enquanto espera um antigo namorado num quarto de hotel, um ex-torturador em fuga escreve para sua mãe, uma mulher escreve ao irmão para falar sobre a morte da mãe, um jovem escreve ao pai doente com quem tem uma relação complicada, e um carteiro redige sua carta derradeira. 

São imigrantes, expatriados, refugiados que buscam, no Ocidente, uma possibilidade de futuro. Sobreviventes interrompidos à espera de um acontecimento que possa livrá-los de suas vidas descontinuadas, deslocadas, violentadas pela guerra, física ou moralmente, identidades que foram esfaceladas por sofrimentos, perdas e duras memórias.  

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Assim como a vida obstruída dos seus narradores, as cartas ficam inacabadas, mas se conectam e se somam às outras narrativas e existências que deixam vestígios e geram outros vestígios, como se o encadeamento entre as cartas pudesse gerar um sentimento de comunhão, de escrita coletiva. 

O aeroporto se configura, no romance, como o lugar de passagem onde pessoas de diferentes etnias, crenças e religiões podem circular como se participassem de um mundo sem fronteiras, espaço emblemático e concreto para onde afluem as histórias dessas vidas em trânsito entre o Ocidente europeu e o mundo árabe.

Nenhuma dessas cartas chegará ao seu destino, assim como os seus narradores elas ficarão em um não lugar. Hoda Barakat não julga seus personagens, não exalta nem condena os seus atos, nem os vitimiza. Barakat compreende a complexidade da dinâmica da existência. São seres no mundo, explorados pela violência e pelas histórias de guerras de seus lugares de origem, mas também responsáveis por suas escolhas.

O leitor, por fim, recebe a dádiva de poder ser o verdadeiro destinatário dessas cartas.

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Orelha de Marcelo Maluf

Marcelo Maluf

Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura em 2016

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