O escritor curdo-turco  Burhan Sönmez, autor de Istambul Istambul, publicado ano passado pela Tabla, nasceu em 1965 em Haymana, uma vila curda próxima a Ancara, na Turquia. Na infância, a língua curda não podia ser ensinada nas escolas, onde se aprendia o idioma turco; assim, o curdo virou a língua falada em casa, a língua das histórias contadas por sua mãe.

Formou-se em Direito pela Istanbul University Faculty of Law e trabalhou como advogado defendendo os direitos humanos na Turquia, após o golpe de Estado de 12 de setembro de 1980, liderado pelo General Kenan Evren. Este foi o terceiro golpe de Estado ​​na história da República da Turquia após os de 1960 e de 1971. As Forças Armadas dominaram o governo por três anos através do Conselho de Segurança Nacional, antes da democracia ser restaurada no país em 1983, com uma eleição geral. Nessa época, observou-se um aumento do nacionalismo do Estado turco, incluindo o banimento da língua curda.

Por causa de sua atuação como advogado e também por organizar protestos estudantis contra o governo, Sönmez foi preso e torturado em 1996. Após ser solto, fugiu para o exílio na Grã-Bretanha, onde foi tratado e conseguiu se recuperar fisicamente com o apoio da organização Freedom from Torture, onde também conheceu várias pessoas do mundo todo perseguidas em seus países de origem. Foi nessa época que ele começou a se dedicar à literatura.

O seu primeiro romance em turco foi Kuzey (North ou norte), de 2009, seguido por Masumlar (Sins and Innocents ou pecados e inocentes), de 2011. Istambul Istambul, publicado ano passado pela Tabla, com tradução de Tânia Ganho, foi o seu terceiro romance, que saiu em 2015 e traduzido para 20 idiomas. Em 2018, publicou Labyrinth (labirinto, em referência a Jorge Luis Borges) e, em 2021, Stone and Shadow (pedra e sombra). 

Em Istambul Istambul, ele se valeu de memórias pessoais e de outros prisioneiros políticos para criar a história de quatro personagens que são torturados em celas subterrâneas da cidade turca ao longo de dez dias. Ao mesmo tempo, Sönmez mostra o poder de se contar histórias para resistir à opressão e à desumanização das violências sofridas rotineiramente.

Apesar de ter conseguido cidadania britânica, ele voltou para a Turquia assim que resolveu a sua situação legal no país. Ele alega que é em Istambul que existem as memórias da sua vida, além de ser um lugar onde ele pode continuar a lutar pela liberdade em seu país, que vem sofrendo com as perseguições políticas perpetuadas pelo governo do atual presidente Recep Tayyp Erdoğan. Esse compromisso político foi reconhecido ao se tornar, no ano passado, presidente da PEN International, uma associação mundial de escritores, ensaístas e poetas, que visa promover a literatura, defender a liberdade e auxiliar escritores em risco e apoiar escritores em exílio. 

Recentemente, ele se tornou pai e vive entre Cambridge e Istambul.


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