Israel é o paraíso da modernidade no Oriente Médio. O paraíso LGBTQI+. Da segurança pública. Das baladinhas top. 

Da super ciência. Da super vacinação.

Em canais de viagem, Israel mostra ruas bonitas, cafés descolados, sorveterias maneiras, rolês legais.

Além do turismo religioso, claro. Como o Brasil é um país cristão (taokey?), gostamos de ver os lugares por onde Jesus passou. Tem gente que vai além e inclusive se batiza no rio Jordão em excursões evangélicas. 

Essa parte até que não seria tão problemática se Jesus fosse visto por essa galera como um garoto palestino preso e torturado, como tantos casos que vemos diariamente. E não como um playboy israelense que tem porte de arma – o que, definitivamente, ele não seria.

Guarde tudo isso que descrevi. Como as pessoas pensam por imagens, essa é a imagem que o brasileiro, em geral, tem de Israel: é um país moderno, bacana, interessante, exótico por estar no Oriente e não ser árabe. E, principalmente, um país com uma grande moral, já que é uma terra tão sagrada.

Agora, falemos da Palestina. Há um fenômeno estranho que ocorre quando se trata de Palestina, que nomearei neste texto como “inversão da origem da violência”. 

São muitos os perfis no Instagram de palestinos denunciando, com vídeos e fotos, a violência que sofrem – o que é necessário, já que as redes sociais são poderosos meios que eles têm para mostrar para o mundo a injustiça que sofrem com o sionismo.

Mas, infelizmente, isso não funciona. Porque Israel vacinou o mundo para achá-lo cool.

Então, as imagens de palestinos ensanguentados, destroçados, machucados – mesmo que por Israel, que massacra este povo nativo – surte o efeito contrário.

Aí, associa-se o palestino à violência, criando uma inversão da origem desse mal.

A Palestina não é cool. Os árabes são fechados, conservadores! Essa imagem, na minha opinião, se dá porque a luta palestina transforma toda qualidade israelense em futilidade.

Achamos os árabes brutos por olharem para nosso deslumbre pelos rolês, liberdades e avanços sociais israelenses e dizerem: “dane-se tudo isso, eu quero o direito de pertencer à minha terra”.

Achamos que temos mais sensibilidade para a vida do que um povo que “só” clama por terra, pelo direito de existir ali.

Mas a terra é o mais importante dos seres, origem de toda origem. Assim como mostra Darwich no poema Penúltimo Discurso do Índigena Vermelho ao Homem Branco (Onze Astros, Editora Tabla, 2021).

A nakba, catástrofe palestina, ainda não acabou. Não só Sheikh Jarrah, mas toda a Palestina vive um longo 1948, que precisa terminar.

Letícia Sé

Letícia Sé é jornalista e se dedica a temas do mundo árabe. É autora de Baulistanas, livro sobre a imigração de mulheres árabes ao Brasil. Em 2016, cobriu a Conferência da ONU Sobre Mudanças Climáticas no Marrocos, país onde também estudou a língua árabe. É criadora do blog SistemaMundo.com e compartilha conteúdos no Instagram @leticia.blog.

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