Qual a diferença entre um khan e um sultão? O vizir tem mais poder que o califa? O que significa ser um dervixe, um xá ou um begh/bei? Todos esses termos aparecem no livro Samarcanda, de Amin Maalouf, com tradução de Marília Scalzo.

Confira abaixo um pequeno glossário sobre o significado de cada um desses títulos.

begh/Bei

É um título turco tradicionalmente usado por pessoas de linhagens especiais de líderes ou governantes de reinos turcos na Ásia, como os otomanos, os timúridas e outros khanatos e emirados da Ásia Central. As áreas que os beis governavam eram chamadas de “beylik”, em turco. Hoje, o termo ainda é usado para se referir a homens, no sentido de “senhor”. 

califa

Derivado da palavra “khalifa” em árabe, é o líder político e religioso da fé islâmica, visto como o sucessor do Profeta Muhammad. É sempre um homem e, apesar do título, não é considerado um mensageiro de Deus. Os primeiros califas foram Abu Bekr, Omar, Uthmann e Ali. Os califados que surgiram posteriormente, como o omíada, abássida, fatímida, entre outros, eram governados por califas cujas origens eram traçadas até Muhammad.

dervixe

O termo, em persa, significa “mendicante”, tendo o mesmo significado da palavra “faquir”, que em árabe significa “pessoa pobre”. No islã, o termo se refere a membros das fraternidades sufis, uma vertente mística da religião (simplificando bem), ou um andarilho religioso que escolheu seguir o caminho da pobreza material, sendo considerado uma pessoa respeitável por estar à mercê de Deus.

emir

Também usada nas formas “amir” ou “ameer”, é uma palavra árabe que significa originalmente “comandante”, “general” ou “líder”. Mais tarde, passou a ser usada como sinônimo de “príncipe”, no sentido daquele que governa um emirado.  

khan

Em turco, a palavra significa “governante” ou “nobre”. É um título nobiliárquico originalmente vindo das tribos tártaras e mongóis, principalmente a partir de Gengis Khan (1162-1227), cujos descendentes passaram a adotar esse título, assim como outros governantes da Ásia Central que dominavam os khanatos (como o de Bukara, por exemplo). Com o passar do tempo, “Khan” se tornou um sobrenome bastante comum entre populações muçulmanas da Ásia.

sultão

Originalmente, o termo em árabe significava “força”, “autoridade”, “governo”, e passou a ser usado como título pelos turcos seljúcidas que dominaram o califado abássida no século XI. Como não tinham legitimidade para adotar o título de “califa” (que representaria um descendente do Profeta), passaram a usar “sultão”, marcando a posição de governantes dos sultanatos. O governador do Império Turco-Otomano era o sultão e, com a extinção dos califados, passou a ser o líder político e religioso do Islã. Hoje, o termo se confunde com “rei”, tanto que em 1957 o monarca do Marrocos veio a ser chamado de “rei” em vez de “sultão”.

vizir

A palavra, em persa, significa “ajudante”. Era o título que designava o ministro e conselheiro de um xá e passou a ser usado em diversos países islâmicos após a conquista do Império Sassânida pelos muçulmanos no século VIII. O vizir tinha uma função parecida com a de um primeiro-ministro, fazendo a ligação entre o monarca e os seus súditos. Pelo fato de os califas e sultões serem um tanto inacessíveis, os vizires detinham grande poder, pois eram eles quem executavam as ordens dos monarcas, ao mesmo tempo que os mantinham distantes do dia a dia burocrático da governança.

Xá, ou “shah”, é o título usado pelos monarcas do antigo Império Persa, incluindo o primeiro Império Persa, a dinastia aquemênida, dinastias do século XII e, mais recentemente, os Pahlavi. A palavra é uma abreviação de Shahanshah (“rei dos reis”). Enquanto na Europa o monarca otomano era chamado de sultão, no território asiático ele era referido como “Padishah” (“rei mestre”).

Paula Carvalho

Paula Carvalho é jornalista, doutora em História pela UFF e autora do livro “Direito à Vagabundagem: As viagens de Isabelle Eberhardt”

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