É com grande pesar que fomos informados do falecimento da educadora palestina Eman Abu Saeid, que foi assassinada junto de seu marido e dos dois filhos pelos bombardeios ininterruptos sobre a faixa de Gaza por parte das forças de ocupação israelenses.  Pouco tempo antes de morrer, Eman entrou em contato com o Instituto Tamer, do qual era uma importante parceira, para falar sobre o seu mais novo projeto chamado “A Magia das Conchas”.

Essa atividade consistia em levar as crianças para recolher conchas ao longo da costa de Gaza enquanto lhes contava histórias da tradição oral da Palestina e de Gaza. As conchas eram então utilizadas pelas crianças para decorar as suas casas e com isso se pretendia também chamar atenção para os desafios causados pelo cerco a Gaza, como a impossibilidade das famílias de obterem material de construção para reformar as suas casas.   

A interrupçao de projetos educativos como este e a perda de pessoas de tanto valor, conhecidas pela sua luta pelos direitos humanos e da criança, são certamente algumas das faces mais crueis do genocídio que está sendo perpetrado pelas forças de ocupação israelenses na faixa de Gaza. 

Leia a carta que o Instituto Tamer dedicou à memória da professora Eman Abu Saeid.

Leia também: Vozes palestinas da memória, por Milton Hatoum

Adeus à colega Eman Abu Saeid

Na última conversa que tivemos por e-mail com nossa querida colega Eman Abu Saeid e sua equipe – que realizam atividades com crianças e jovens junto aos Centros para a Família em toda a Faixa de Gaza –, Eman compartilhou conosco a descrição de um novo projeto intitulado “A Magia das Conchas”. 

Essa atividade, como ela explicou, começaria com a coleta de conchas nas grandes praias de Gaza. Então as conchas seriam limpas e higienizadas, a fim de serem utilizadas na decoração das casas e, em paralelo, documentar a história oral da Palestina. O projeto ilustraria assim o novo papel das conchas na construção de casas em Gaza devido ao cerco à cidade e à impossibilidade de receber cimento para novas construções. 

É uma atividade que combina diversão, quando as crianças coletam as conchas, e a escavação da própria memória ao se identificar os desafios diários que enfrentamos e que constituem a base da nossa história oral para as gerações vindouras, história essa que está constantemente sob ameaça pelas forças de ocupação “israelenses” e das suas ações contra tudo o que é palestino.

Colega, amiga, irmã, filha e jovem mãe, Eman Abu Saeid faleceu junto com seus dois filhos, Ziad e Judy, e seu marido Iyad, além de 22 membros da sua família, após terem sido alvo de foguetes da ocupação “israelense” no interior da casa onde buscaram abrigo no campo de Al Nuseirat. Isso ocorreu depois que Eman deixou a sua casa em Tal Al Hawa, cidade de Gaza que foi completamente destruída quando o ataque começou. Foi sob os escombros dessa mesma cidade que Eman perdeu a vida. Neste momento, Gaza está enfrentando um genocídio contínuo por parte das forças de ocupação diante dos olhos do mundo inteiro.

Eman se foi sem poder se despedir. Ela partiu sem o adeus que poderia ter nos dado, sem um último olhar ou as últimas palavras na sua presença. Ela partiu sem nos levar para recolher conchas ao longo do mar de Gaza enquanto contava, a nós e às crianças, célebres histórias de Gaza e da Palestina. Você se foi na companhia de Judy, Ziad e Iyad, e nunca mais poderemos ter boas conversas tomando uma xícara de chá.

Eman Abu Saeid foi uma liderança na proteção e na luta pelo bem-estar, mas também em resiliência e encorajamento ao fazer crianças e jovens partilharem sem remorsos suas vozes, sonhos e medos, e chegando até eles em centros comunitários, nos bairros, debaixo das palmeiras e dentro das suas casas. Ela, ao lado de sua equipe, levou felicidade, livros e cores de um bairro a outro como em Rafah, Khan Younes, Al Bureij, Al Nuseirat, Cidade de Gaza, Beit Lahia, Jabalia, bem como a todas as partes da Faixa de Gaza. Ela era uma mulher com um coração tão grande capaz de abrigar todas as crianças e adultos de Gaza e do mundo inteiro. No entanto, as forças de ocupação são mestres em matar e a mataram juntamente com os seus entes queridos.

Eman, nossa colega, amiga e irmã, sempre nos lembraremos da sua alma e do seu enorme coração, e vamos carregá-los adiante pelo caminho que você trilhou conosco.

Seus amigos do Instituto Tamer. 

Para conhever mais sobre o Instituto Tamer, acesse: A importância das histórias na Palestina

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