Escritora e ativista, Leylâ Erbil (1931–2013), autora de Uma mulher estranha, foi a primeira mulher turca a ser cotada para  o Nobel de Literatura, em 2002. É considerada uma das escritoras mais revolucionárias na história da literatura turca recente, não só pelo seu trabalho de “artesã” com a sintaxe de seus textos, mas também por abordar tópicos como condição da mulher, gênero, sexualidade e subconsciente.

Seu primeiro romance saiu em 1971 e, no Brasil, foi traduzido sob o título Uma mulher estranha, publicado em 2022 pela editora Tabla. Em seu país de origem foi considerado um livro polêmico, uma vez que tratou de assuntos como feminismo, a ideologia socialista, o incesto, a virgindade, a igualdade de gêneros, os dogmas religiosos, o peso do patriarcado e a liberdade de expressão.

quem é essa mulher estranha?

um memorial aos erros de uma nação e aos pecados de uma família.” 

“Um totem representando a desintegração de seu passado, 

Quem destaca o trecho acima é a escritora e tradutora Dirce Waltrick do Amarante, no texto de orelha do livro, onde segue:

“Em Uma mulher estranha, escrito num período em que o sistema político turco estava fragilizado depois de ter passado por um golpe militar em 1961, Erbil, além de explorar esse momento histórico, destaca a paralisia do povo diante dos acontecimentos do país. Nesse cenário conflituoso, uma pergunta se apresenta: quem é essa mulher estranha? É assim, por exemplo, que os vizinhos se referem à mãe da protagonista, a qual não deu nenhum herdeiro homem ao marido. Essa mulher estranha é também a moça que perde a virgindade com o próprio irmão, e a estudante que se envolve com o partido de esquerda e luta para libertar o povo que ela diz amar.”

Leia aqui o texto completo de Dirce Waltrick do Amarante.

Outro ponto que torna Uma mulher estranha especialmente interessante é a linguagem e a estrutura do texto. O livro é dividido em quatro “retratos” pelos quais acompanhamos a trajetória da protagonista Nermin e as descobertas existenciais que ela vai engendrando a partir de suas relações. Ela é conhecida pela criação da Garra do tigre, que consiste em uma espécie de reticências feita de vírgulas ( ,,, ) e aparecem também em outras obras da autora.

Das mulheres estranhas: Leylâ Erbil e os feminismos na Turquia

Na mesa chamada Das mulheres estranhas: Leylâ Erbil e os feminismos na Turquia, podemos ver uma série de discussões a respeito da linguagem do livro de Erbil e do como ela foi protagonista numa série de inovações estéticas na literatura do Oriente Médio. 

Além de temas literários, a editora Luci Colin, a professora Samira Osman e a pesquisadora Flávia Painz conversam sobre questões políticas e sociais que atravessam e perpassam a Turquia, desde a década de 70 até os dias de hoje. O feminismo na Turquia daquela época, por exemplo, é um deles.

Feminismo na Turquia: breve panorama

Para saber mais sobre a questão do feminismo na Turquia, Cila Lima escreveu um texto em que faz um breve panorama para entendermos a questão. Ela conta que as feministas teóricas turcas Nilüfer Göle e Deniz Kandiyoti nos ensinam que os movimentos de luta pelos direitos das mulheres na sociedade turca podem ser agrupados em quatro períodos distintos:

  1. da reforma modernizadora otomana, período Tanzimat 1839-1876, a 1923, sob influência de ideias francesas e estadunidenses;
  2. de 1923 a 1960, as intervenções nacionalistas e ocidentalistas da República kemalista, o “feminismo de Estado”;
  3. de 1960 a 1990, a consolidação do feminismo secular kemalista e do feminismo secular crítico ao kemalismo;
  4. pós-anos 1990, os feminismos seculares sendo questionados pela militância de mulheres islamistas.

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