O romance Meu nome é Adam, de Elias Khoury, faz a reconstrução da memória de um personagem para contar a história da Nakba e do povo palestino. O autor libanês aborda diversos temas no decorrer do livro, dentre eles, um dos eventos mais violentos da Nakba palestina foi o processo de expulsão da população árabe das cidades de Lidd e Arramle pelas forças paramilitares israelenses, no verão de 1948. 

Sendo cidades majoritariamente árabes, fariam parte do futuro Estado palestino previsto pelo Plano de Partilha das Nações Unidas; após a recusa deste pelas nações árabes e a ocupação de Lidd pela Legião Árabe da Jordânia, a IDF invade e ocupa a cidade em 12 de Julho de 1948, massacrando entre 400 e 800 habitantes e expulsando entre 50 e 70 mil palestinos, boa parte destes já refugiados vindos da Yafa e arredores. Ante a chegada das forças israelenses, a população foge aterrorizada, frente à memória do massacre de Deir Yassin, no qual 107 palestinos foram mortos pelas milícias Lehi e Irgun, enquanto os sobreviventes foram obrigados a marchar até Jerusalém para serem exibidos como troféu de guerra. 

O destino das cidades e de sua população foi selado por suas localizações estratégicas; suas posições ao longo da rota entre a costa e Jerusalém fizeram sua conquista essencial para a securitização da estrada entre Tel Aviv e Jerusalém, além da garantia do fluxo de transportes e comunicações sionistas (lembrando que ao norte de Lidd estava localizado o aeroporto do Mandato britânico, rebatizado Ben Gurion após a conquista israelense). De acordo com o historiador israelense Benny Morris, o objetivo de tais ações violentas (parte da chamada “Operação Dani”), ordenadas diretamente por Yitzhak Rabin (futuro primeiro-ministro de Israel) e comandanda por Yigal Allon, era causar “pânico civil e fuga”, abrindo caminho para a repopulação da Palestina por imigrantes judeus de todas as partes do mundo. 

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A maioria dos palestinos que foram obrigados a marchar até as linhas da Legião Árabe eram mulheres, idosos e crianças, já que os homens capazes de lutar foram mantidos prisioneiros em Lidd; as altas temperaturas do verão mediterrâneo, aliadas ao medo e falta de suporte, causaram a morte por exaustão e sede de cerca de 500 refugiados. 

Atualmente chamada de Lod pelo Estado israelense, é uma cidade mista com 70% da população judia, originária da imigração de judeus do Norte da África, Etiópia e da antiga União Soviética; e 30% árabe, descendente da população remanescente pré-1948. Em 2010, foi construído um muro que separa as vizinhanças árabes da cidade das partes judaicas, além de passarem a ser implementadas limitações nas concessões de permissão para construção aos habitantes árabes (concedidas em grande maioria à colonos sionistas), uma das políticas generalizadas em todo Estado israelense sob os mandatos de Netanyahu de “judaização” do território, aliada à outras medidas como a concessão de incentivos para transferência de população judaica para áreas majoritariamente árabes. 

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Em 2021, Lod (Lidd) foi um dos epicentros da revolta árabe que tomou conta de Israel após ataques das forças da ocupação contra o complexo de Al Aqsa em Jerusalém e o subsequente bombardeio da Faixa de Gaza, levando o prefeito da cidade a afirmar que o país vivia o início de uma guerra civil. Netanyahu declarou estado de emergência na cidade, garantindo maiores poderes às forças policiais na cidade; foi a primeira vez desde 1966 que tal medida foi utilizada contra a população árabe israelense, que atualmente compõe cerca de 20% da população de Israel. 

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Aycha Sleiman

Aycha Sleiman é estudante de Relações Internacionais na UFABC e fundadora do projeto @des.orientese, que aborda a política e diferentes culturas do Oriente Médio a partir de uma abordagem ao mesmo tempo acolhedora e crítica.

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