Na edição número 1 da revista The Arab Studies Journal (vol. 17), Elias Khoury, autor de Meu nome é Adam, livro lançado pela Tabla com tradução de Safa Jubran, publicou um artigo intitulado “O poeta está morto” onde lembra seu amigo Mahmud Darwich.

No texto em questão, Khoury relembra a última conversa por telefone que teve com Darwich, em que o Poeta Nacional da Palestina pediu a opinião do amigo sobre seu último poema, “O jogador de dados”. A resposta foi uma provocação: que Darwich teria começado a escrever como os poetas escrevem. Em seguida, Khoury ouviu a risada de Darwich do outro lado da linha. 

Em outro momento, Khoury menciona a obra “Da presença da ausência”, também publicada pela Tabla com tradução de Marco Calil, como uma espécie de espelhamento da vida de Darwich, que teria passado a vida nesta “presença da ausência”. Na ocasião, o poeta palestino estava doente e sem muitas esperanças de recuperação, com sua artéria do coração já fragilizada. Porém, naquela mesma época, ele escreveu “seus mais belos versos em preparação para a morte”.

Conheça o livro Da presença da ausência aqui!

 Elias Khoury: Ghassan Kanafani e Mahmud Darwich

singer café

“O que vamos escrever quando você estiver morto?”, perguntou Khoury a Darwich. E ele contou uma história sobre o assassinato do romancista palestino Ghassan Kanafani, também publicado pela Tabla. Transcrevemos um trecho do artigo de Khoury:

 “Darwich lembrou que foi pego de surpresa quando o poeta palestino Kamal Nasir entrou bastante nervoso em seu escritório no Centro de Pesquisa Palestino, em 1972, segurando o obituário que o Poeta havia escrito para Kanafani. Nasir jogou o artigo sobre a mesa e perguntou, gentilmente: ‘O que você vai escrever sobre minha morte, agora que escreveu tudo neste artigo?’.

Menos de um ano depois, quando Nasir também foi assassinado por Israel, Darwich escreveu o poema “Casamento Palestino”:

 Nunca o amante alcançará o amante

Exceto como mártir ou fugitivo.

 Para o escritor libanês, Darwich não se baseava apenas na sua inspiração ou em sua intuição poética, ou “na suavidade das flores de limão, na música de sua poesia e na água que atenuava suas palavras”. Ele destaca que o que de mais relevante havia na poesia de Darwich é que ele acrescentava a essa carga poética clássica dos árabes “a sua capacidade consciente de resumir esta poesia na poesia árabe moderna”, além de viajar por toda a poesia universal, “desde os antigos gregos até Neruda.”

Conheça o livro Meu Nome é Adam aqui!

“Ele tinha algo de al-Mutanabbi, que resumia a poesia de seu tempo.”, continua. “Mas a diferença entre o Poeta moderno e o Poeta antigo é que Darwich rejeitou o poder quando lhe foi oferecido, enquanto seu antecessor exauriu toda a sua vida em busca de sua miragem. Darwich foi o início da poesia que cria a pátria apesar de seu distanciamento dela, enquanto al-Mutanabbi permanecia perdido nas promessas das palavras. Darwich não encontrou a terra que ele criou com suas palavras antes que pudesse se tornar realidade tangível. Ele permaneceu na Palestina. Voltou sem voltar de verdade, um estranho em seu próprio país, embora nele fosse o mestre da palavra.”

Em comparação a Darwich, Elias Khoury diz que o romancista Ghassan Kanafani retornou a Haifa apenas em sua ficção, enquanto Darwich voltava somente para uma parte de sua terra: Kanafani fundou a história palestina na linguagem, mas Darwich a cristalizou em um épico lírico”. Eis aí um processo de escrita da história da Palestina que não ficou completa até que “Edward Said acrescentou seu pensamento luminoso e intelecto enciclopédico” junto com o tempero e o sarcasmo de Emile Habibi, em obras como The Pessoptimist.

Por fim, Khoury relembra que os principais inventores dessa terra foram mortos: “Kanafani foi morto pelos israelenses e Darwich acabou explodindo… por dentro”. 

 Fonte:

The Poet Is Dead: Elias Khoury Remembers His Friend Mahmoud Darwish
Autor(es): Elias Khoury.
The Arab Studies Journal, Vol. 17, nº 1 (Primavera de 2009), p. 100-109.
Publicado por: Arab Studies Institute.
URL estável: http://www.jstor.org/stable/27934059
Acessado: 2016-02-18 16:24 UTC

Assine nossa Newsletter