Eu queria começar dizendo da importância do livro Dez mitos sobre Israel. O autor, Ilan Pappe, é muito conhecido por uma obra importante chamada “A limpeza étnica da Palestina”. Pappe é um desses chamados “novos historiadores” que têm se aproveitado de um instrumento que se poderia chamar de “democrático”, que é a abertura dos arquivos pelo governo de Israel. Assim, Pappe tira proveito do fato de ter acesso aos arquivos oficiais para nos mostrar que tudo que nos contam sobre 1948 e 1949 é um mito, que o que aconteceu de fato foi uma limpeza étnica na Palestina e que isso foi intencional e planejado, que tudo foi previamente pensado.

É muito impressionante que ele se valha desse momento de abertura e democracia para escrever e levantar informações sobre um tema tão importante. A gente tem sempre a impressão de que não se consegue perfurar a barreira que faz com que as pessoas não enxerguem a realidade do Estado de Israel. E por que isso acontece? Porque, justamente, há uma espécie de névoa protetora que encobre a injustiça sob um verniz de democracia, que nos conta que o próprio Estado de Israel tem uma lei que abre arquivos e que eles podem ser acessados e faz dessa imagem de abertura mais importante do que a realidade da tragédia palestina. E esta é uma névoa difícil de transpor. Esta barreira, na realidade, impede as pessoas de perceber a gravidade desse evento. O Ilan Pappe, inclusive, luta contra essa barreira e, em certa medida, vai sofrer a mesma frustração que nós sofremos. Por isso, a importância desse livro é justamente nos trazer para dentro de uma questão tão fundamental e fazer isso tentando desfazer esses véus e nos fazer ter a visão desse tema tão trágico.

“Espada de Jerusalém” e as novas relações 

Os nossos grandes jornais no Brasil continuam muito capazes da tarefa de sustentar esta narrativa israelense e, se não chegam a apoiar explicitamente, não deixam de sempre apresentar alguma informação que sirva como compensação. Sempre que aparece alguma crítica a Israel, a imprensa encontra alguma coisa positiva para nos contar sobre o país no mesmo dia. Há uma incapacidade de percepção muito grande em alguns círculos do que se passa lá, mas você percebe que as pessoas começam a acordar, talvez até mais fora do Brasil do que no Brasil. Elas começam a perceber uma coisa que deveria ser muito banal: que é muito grave expulsar as pessoas das suas casas e dos lugares onde vivem e de onde elas e os seus antepassados viveram.

Nós sentimos essa frustração que, aliás, também está mudando no bojo da percepção das pessoas, e acho que esta é a marca desses novos tempos; uma alteração que se dá com a “Espada de Jerusalém” (Saiba mais sobre a Espada de Jerusalém aqui) que, na verdade, foi mais uma evidência que mostra que a relação de forças está mudando. Isso faz com que se altere a percepção da justiça, nos faz acordar para a tragédia. Além disso, nos faz perceber a diferença das relações de força e do embate. A verdade é que mais cedo ou mais tarde haverá uma grande conflagração que talvez mude a cara da região.

*transcrição da fala de Salem Nasser no evento de lançamento do livro Dez mitos sobre Israel, na livraria Mandaria – SP

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