A editora Tabla lança este mês “Meu nome é Adam”, primeiro romance da trilogia “Crianças do gueto”, de Elias Khoury. Inédito no Brasil, o romance ganhou tradução de Safa Jubran, que já havia assinado duas outras traduções de Khoury aqui em nosso país. 

“Meu nome é Adam”, apesar de ser o primeiro volume de uma trilogia, pode ser lido de forma independente, assim como os outros dois volumes.  Este primeiro romance narra a história de Adam, um intrigante vendedor de falafel, que reconstrói suas memórias, que se confundem com a própria história da Nakba e do povo palestino. 

O autor libanês Elias Khoury aborda grandes temas como a identidade e a memória, e sobretudo questiona: como restituir, na literatura, crimes cujas vítimas estão muradas pelo silêncio? O autor nos conta essa(s) história(s) ao longo da trilogia “Crianças do gueto”, começando com este primeiro volume, que evidencia a maestria de Khoury na contação de histórias e no uso das técnicas narrativas.

“Stella Maris”, o segundo volume da trilogia de Elias Khoury

Como na primeira parte da trilogia, “Stella Maris” se desenrola no fio tênue do fim da história de amor entre Adam Dannoun, um cidadão do gueto da Palestina que tenta se passar por um israelense, e Dalia Ben Tsavi, uma israelense de ascendência polonesa e iraquiana.

Adam decidiu escrever sua história, a do “novo Adão”, que, ele gostaria de acreditar, começa na sua fuga de casa aos 15 anos. O seu objetivo é ir o mais longe possível de sua infância no gueto de Lidd, onde esteve com sua mãe Manal. No entanto, este “novo Adão” está em busca de uma identidade que continuamente está lhe escapando. 

“Quero me tornar judeu”, diz a Gabriel, o dono de garagem israelense que lhe oferece seu primeiro emprego. “Isto é impossível”, foi a resposta. Este “presente-ausente” – que, segundo Adam, são chamados todos os palestinos que foram expulsos de suas casas e ainda vivem em Israel –, fez com que ele pensasse que poderia se tornar um “árabe ausente – israelense presente”. Porém, Adam logo percebe a impossibilidade disso. Paradoxalmente, mesmo que quisesse, ele não poderia expressar sua identidade árabe. Adam vai reconhecendo que os palestinos, na verdade, são silenciados.

Por conta do seu fenótipo, Adam é confundido com um judeu na universidade em que estuda literatura hebraica, um equívoco reforçado por ele ao dizer “ser do gueto”. Um aluno brilhante, ele logo se torna amigo de seu professor de literatura hebraica, Yakov, que o seleciona junto com outros três alunos para fazer uma viagem de campo ao gueto de Varsóvia e a Auschwitz. Adam embarca na viagem e presencia o horror do Holocausto. 

Esses anos na universidade ensinam Adam como se esconder, aproximando-o ainda mais dos versos do grande poeta da Palestina, Mahmud Darwich, que fala sobre a “presença da ausência” e a “memória do esquecimento”. 

Ao revelar as construções na identidade de Adam, Elias Khoury também relaciona, de forma inédita, o Holocausto e a Nakba, ambos fenômenos determinantes das identidades israelense e palestina. Khoury retrata com sensibilidade o que está no coração da ocupação palestina: a perda de suas terras e casas e da vida antes conhecida, o silêncio, a opressão. Para o autor, este é o grande legado da Nakba: a verdadeira tragédia é que esse silêncio nunca pode ser quebrado. “A linguagem nos trai”, diz Adam, a certa altura.

“Stella Maris” é mais uma uma narrativa cativante de Khoury que se desdobra em um mundo complexo. O leitor se torna uma testemunha não só da História com H maiúsculo, mas também das pequenas histórias, essas que são perpassadas pelo silêncio e pela ausência. 

Saiba mais sobre Meu nome é Adam

O terceiro volume da trilogia: “Alguém como eu”

O terceiro volume da trilogia ainda está em processo de finalização pelo libanês Elias Khoury. O autor escreve, neste momento, o final da trajetória de Adam e das “Crianças do gueto”. “Alguém como eu” é o título provisório da narrativa que termina de tecer a história de Adam e a de todo povo palestino que, silenciado, descobre que suas memórias também são feitas de arte e poesia. 

Em breve a trilogia de Elias Khoury vai estar toda publicada aqui na Tabla. Aguardem!

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